Em Fortaleza
Gasolina - As primeiras altas chegam a 7,4%
31.01.2013
O aumento de 6,6% da gasolina vendida pelas refinarias, anunciando
na última terça-feira pelo governo federal, já começou a surtir efeito
no bolso dos motoristas fortalezenses. Quatro dos 10 postos consultados
pela reportagem apresentaram alta, um deles, inclusive, chegando a 7,4%,
acima do percentual divulgado pelo Planalto. Este, que é BR,
localiza-se na Av. Leste-Oeste e subiu o preço do combustível de R$ 2,69
para R$ 2,89.
Os
primeiros repasses do reajuste, pesando no bolso do consumidor,
aconteceram ainda ontem, apesar de que a maioria dos estabelecimentos
espera a reação do mercado para definir os preços Foto: Tuno Vieira
Outro
que se destaca é de bandeira Ipiranga e localiza-se na Av. Raul
Barbosa. Lá, o preço era de R$ 2,62 e foi elevado para R$ 2,73, uma alta
de 4,19% (11 centavos). Na Rua Costa Barros, um posto de bandeira SP
também chegou a R$ 2,89, uma majoração de 3,6% sobre o valor anterior:
R$ 2,79. Na BR-116, um de bandeira Ale registrou um aumento de 3,06%,
saltando de R$ 2,61 para R$ 2,69.
Até a semana passada, a média
do combustível na Capital cearense era de R$ 2,67, segundo a Agência
Nacional do Petróleo (ANP). Nos estabelecimentos onde o preço ainda não
se alterou, a postura de seus proprietários é cautelosa, mesmo com a
alta de 6,6% nas refinarias. “O que vai determinar o aumento, na
verdade, vai ser a maneira como o mercado vai se posicionar. Aí sim,
poderemos fazer alguma modificação”, declarou Paulo Pereira, do posto
HB, de bandeira Shell, também na BR-116.
Apesar da cautela, o
clima é de que, a qualquer momento, os preços devem subir de maneira
significativa. “Estou apenas esperando a ligação do proprietário lá de
São Paulo para subir os valores”, disse o gerente de um posto BR, na Av.
Desembargador Moreira, que preferiu não se identificar. Em um outro
estabelecimento Shell da BR-116, o gerente Mário César Torres adiantou
que aplicaria o aumento à meia-noite de hoje. “Eu estou vendendo por R$
2,64, mas o preço de pauta (valor considerado pela Secretaria da Fazenda
na hora de descontar o ICMS) é R$ 2,72, então eu vou fazer o aumento de
6,6% sobre R$ 2,72”, conta. Assim, no posto onde trabalha Torres, a
alta deve ser de 9,8%, chegando a R$ 2,90. O presidente do Sindicato dos
Revendedores de Combustíveis do Ceará (Sindipostos), Vilanildo
Fernandes, declarou que os preços devem ser reajustados à medida que os
estoques dos estabelecimentos forem se esgotando. “Com isso, em dois ou
três dias, o mercado deve se adequar a essa nova realidade” , diz.
Correria
Os
motoristas mais atentos aproveitaram o primeiro dia de aumento para
encher os tanques dos veículos nos postos onde ainda não houve reajuste.
“Eu tenho o costume de abastecer toda quinta-feira, mas com essa
notícia, corri para o posto logo hoje (ontem)”, contou o comerciário
Paulo Couto, que ainda conseguiu encher o tanque a R$ 2,61. Os próprios
gerentes entrevistados admitiram que a movimentação estava bem maior
ontem, formando-se filas na bombas.
Diesel
O
diesel também sofreu alta em alguns estabelecimentos. Dois dos quatro
que aumentaram o valor da gasolina também o fizeram com o outro
combustível.
O primeiro (Ale) registrou alta de 4,78%, saltando de
R$ 2,09 para R$ 2,19. O segundo (Ipiranga) subiu em 4,56%, pulando de
R$ 2,19 para R$ 2,29. Mesmo assim, os dois estão abaixo dos percentual
anunciado pelo governo: 5,4%.
Sincopetro projeta
Para
José Alberto Paiva Gouveia, presidente do Sindicato do Comércio
Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de São Paulo (Sincopetro), o
anúncio do governo deve refletir em um acréscimo entre 4,6% e 4,8% no
valor final do combustível. Esse porcentual, explicou, significa uma
alta entre R$ 0,08 e R$ 0,10 no preço do litro da gasolina.
Frete até 1,7% mais caro
O
setor de transporte de carga rodoviária calcula que o reajuste do
diesel leve a um aumento de custo de R$ 3,6 bilhões neste ano. O
segmento transporta 58% de tudo o que é movimentado no país. A despesa
dos transportadores com diesel passará de R$ 66,6 bilhões para R$ 70,2
bilhões, segundo a consultoria Ilos (Instituto de Logística e Supply
Chain).
Em média, o combustível tem peso de 28% no custo do transporte rodoviário de carga.
No
agronegócio, o peso é ainda maior: no transporte de commodities
agrícolas, como a soja e o milho, o óleo diesel chega a representar
43,5% no custo final da operação.
Segundo a Esalq-Log, grupo de
pesquisa e extensão que estuda logística do agronegócio, o impacto da
alta do diesel no frete rodoviário é estimado entre 1,5% e 1,7%.
Mantega: correção não atrapalha
Brasília
A alta no preço da gasolina nos postos de combustíveis será de 4% e
pode ser absorvida pelo consumidor, afirma o ministro da Fazenda, Guido
Mantega. A alta do preço da gasolina nas bombas é menor do que a alta de
6,6% anunciada na última segunda-feira pela Petrobras. Isso acontece
porque a gasolina recebe uma adição de 20% de álcool nos postos, produto
com preço menor.
Gasolina
vai subir 4% nos postos de combustíveis e pode ser absorvida pelo
consumidor, diz o ministro Guido Mantega Foto: Agência Brasil
“Faz
muitos anos que o preço da gasolina está defasado em relação à
inflação. É uma pequena correção que não vai atrapalhar ninguém”, disse o
ministro a jornalistas em encontro com prefeitos promovido pelo governo
federal. Mantega avalia que a queda na tarifa de energia, nos juros e
outras desonerações previstas para o consumidor ao longo de 2013 vão
“compensar” o aumento no valor do combustível.
A Petrobras também
anunciou aumento no preço do óleo diesel de 5,4%. A Fazenda avalia que a
subida nos preços dos combustíveis causará uma alta de 0,16 ponto
percentual no acumulado deste ano do IPCA, o principal índice de
inflação.
Em anos anteriores, o governo absorveu altas dos
combustíveis nas refinarias da Petrobras com extinção da cobrança da
Cide (imposto federal dos combustíveis). Este ano, Mantega acredita que o
consumidor tem condições de absorver esse aumento.
Dólar não vai ‘derreter’
Na
contramão do movimento feito pelo Banco Central (BC) para trazer o
dólar para um patamar mais baixo, Guido Mantega, afirmou que a cotação
do dólar não vai “derreter”, a política cambial permanece a mesma e a
taxa de câmbio não será usada para controlar a inflação.
O recado
enfático do ministro foi seguido pouco tempo depois por uma oferta de
US$ 1,27 bilhão pelo BC. Os movimentos alimentaram a percepção, no
mercado financeiro, de que falta “sintonia” entre Fazenda e Banco
Central sobre os rumos da política cambial.
A sequência
desencontrada de acontecimentos deixou os operadores do mercado confusos
e ampliou a volatilidade na cotação da moeda norte-americana ontem. Se
com a fala de Mantega, durante a manhã, o dólar chegou a retomar o
patamar de R$ 2,00, com a atuação do BC, no início da tarde, a moeda
perdeu força, fechando cotada a R$ 1,99, alta de 0,20%.
Apesar da
avaliação que ganhou força entre os economistas de que BC pode usar a
valorização do real como mecanismo para ajudar a segurar a alta da
inflação no início deste ano, Mantega afirmou que o único instrumento de
política monetária para baixar os preços são os juros.
Ele não
descartou, inclusive, a possibilidade de elevação da taxa básica
(Selic), para conter a pressão inflacionária. Mantega enfatizou ainda
que a mudança de patamar da taxa básica de juros - que atualmente está
em 7,25% ao ano - não significa que a ela esteja engessada.
Mistura de etanol sobe a 25% em maio
Brasília.
O governo federal vai elevar a parcela de etanol na mistura da
gasolina, dos atuais 20% para 25%, a partir de 1º de maio, como uma
forma de atenuar o impacto do reajuste dos combustíveis ao consumidor. O
estímulo às usinas de cana-de-açúcar veio acompanhado de um aviso do
ministro de Minas e Energia, Edison Lobão: aumentos “abusivos” de preços
da gasolina nos postos de combustíveis serão fiscalizados “com rigor”.
Por
causa do aumento, motoristas formaram filas nos postos de Fortaleza
para aproveitar os preços que ainda haviam sido modificados Foto:
Waleska Santiago
“O aumento de preços foi de 6,6% nas
refinarias, então não pode chegar a 10%, por exemplo, nos postos. O
mercado é livre, mas não pode se exceder. O governo vai fiscalizar com
rigor”, disse Lobão, depois de uma reunião com representantes do setor
sucroalcooleiro e o ministro da Fazenda, Guido Mantega.
Pouco
antes do encontro, Mantega afirmou que o aumento dos combustíveis na
bomba deve ficar próximo a 4%. “Os postos vão passar 4,4% de aumento,
porque tem a mistura de etanol”, afirmou Mantega. Segundo ele, de 2006 a
2012, o preço da gasolina subiu 6%. “É uma elevação modesta, uma
pequena correção que não vai atrapalhar ninguém”, disse.
Consequências
O
impacto do reajuste anunciado na terça-feira (29) pela Petrobras no
Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) - indicador que baliza a
política de metas de inflação - deve ser de 0,16 ponto porcentual, pelas
contas da Fazenda.
O governo já tinha decidido elevar a parcela
de etanol na gasolina quando definiu reajustar os preços da própria
gasolina e do óleo diesel. A sinalização anterior da Agência Nacional do
Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) era de que o aumento do
etanol na gasolina ocorreria em 1º de junho, mas Mantega e Lobão
decidiram antecipar.
As empresas apresentaram aos ministros a
estimativa de que a safra de cana deste ano, cujo auge da colheita
ocorre entre junho e agosto, terá uma produção de até 27 bi de litros de
álcool. “O setor produz cerca de 22 bi de litros por safra, mas os
produtores garantiram de mãos juntas que serão capazes de suprir a
demanda", afirmou Lobão.
Ação da Petrobras tem queda de 5%
Rio de Janeiro.
As ações ordinárias (com direito a voto) da Petrobras caíram 5,12%
ontem, com o mercado considerando os reajustes de combustíveis
anunciados na véspera (6,6% para gasolina e 5,4% para diesel)
insuficientes para estancar a sangria de caixa da empresa. As altas
devem engordar o caixa entre R$ 6,9 bilhões e R$ 7,8 bilhões ao longo do
ano, segundo analistas.
Mas a expectativa de aumentos maiores do
que os concedidos frustraram o mercado. Além disso, as perdas acumuladas
por causa da defasagem de preços em relação ao mercado internacional
foram maiores no ano passado do que serão os ganhos em 2013. Foram R$
25,1 bilhões pelo ralo em 2012, no cálculo do Bradesco, montante tido
como irrecuperável.
“A decisão do reajuste parece ter partido do
princípio de que é melhor pouco do que nada. Mas a verdade é que este
pouco não sana as pressões sobre o caixa”, disse a analista da
Concórdia, Karina Freitas.
Novos reajustes
Segundo
uma fonte da petroleira, a companhia só deve voltar a pleitear
reajustes de combustíveis na próxima revisão do plano de negócios
quinquenal, em meados do ano. Até lá, com a inflação em alta, não se
considera haver espaço para novos pedidos, embora a defasagem se
mantenha alta e deva continuar sendo exposta mensalmente ao seu conselho
de administração.
Em setembro de 2012, a direção da petroleira cogitou cortar projetos por falta de caixa.
Fonte: DN